Diário

20.01.09: Retomando a escrita deste livro, decidi passar uns dias na chácara em Chapada dos Guimarães, buscando a concentração que só o isolamento dá. Também seria ótimo passar mais tempo na Pousada Santa Rosa, com a Mirela, a Margô, a Danuza e companhia. A Margô está toda feliz por ter encontrado um ex-namoradinho de colégio, mas o cara está passando por uma crise de dor de barriga, impedindo-o de conversarmos por períodos muito longos, rs. Logo no primeiro dia na chácara, de manhã, comecei por ler o conteúdo dos arquivos (anexos, entrevistas, documentos etc.). Escrevi a Introdução e fui até a página 11. Almocei no João, nosso caseiro, e à noite, fui na Pousada Santa Rosa jantar “arroz de puta chique” (mistura de arroz egípcio com o humor da Ariadne, filha da Margô). Antes, passei no mercado e levei uma garrafinha de cachaça artesanal para o Rogério, irmão da Mirela. Quase 14 anos de amizade e só agora descobri que ele foi piloto de avião. A Janaína, sua mulher, tá grávida, e escapou de uma jararacuçu que subiu de um brejo no fundo do quintal (“supermercado de cobra”, como ela chama, pela abundância de ratos, sapos e pererecas).

21.01.09. Uma das coisas mais curiosas que vou percebendo no livro é a improvável relação entre fatos e pessoas do passado com fatos e pessoas do presente, como minha ex-namorada Enny Katery ter namorado o marido da Cristiane da Hidroclin (e isto é apenas um exemplo dos mais simples). Notei ainda mudanças de linguagem ao longo do livro (por causa dos anos de diferença entre as interrupções e retomadas), e dei ainda uma boa revisada no conteúdo, eliminando fatos irrevelantes (minha psicanalista Cláudia já tinha falado que isto aconteceria). Cheguei até a pág. 24, mas preciso escrever sobre um pouco mais sobre os anos de 1995 e 1996, incluindo o meu amigo Mau, lógico. Não rendi muito, mas em compensação ouvi uma frase enigmática da Mirela ontem, que me disse: “Quando você terminar alguma coisa, nunca mais admitirá deixar nada pela metade”. Hoje o João, nosso caseiro, me pediu para “cortar” um pouco a quantidade de ração que eu estava dando para os bichos, e os gatos pareceram protestar. À tarde, liguei para a Mirela falando que estava levando o pão para tomarmos um café. Comprei vela artesanal da loja da Margô para dar de presente para minha mãe e perguntei ao seu namorado gaúcho como estava da diarreia, ao que ele me respondeu que “tá tuuudo bem, tchê… só que ainda não cicatrizou muito bem… (KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK!!!!!!!!). Aqui na chácara é muito bom, mas eu estou com um pequeno ferimento na perna, por dentro da prótese. Não quero descer para Cuiabá, mesmo com minha perna me implorando. Bem… implorando ela estava ontem; hoje amanheceu parecendo que queria se vingar porque não atendi. Mão doendo de tanto digitar. Dormi tarde ontem; vou pra cama mais cedo hoje. São 23h00m.

22.01.09. Escrevi um pouco sobre a fase de Alta Floresta, show da banda etc. Tirei várias fotos com meu celular. O João gostou de ir até a cidade dirigindo meu Corolla. Fiquei pensando em como seria reduzir as responsabilidades em Cuiabá para passar um ou dois dias no máximo por lá e o resto do tempo ficar aqui. Desci o rio que banha a nossa chácara e fui até a cachoeirinha, com um bastão escoteiro para me ajudar no equilíbrio. Aliás, teria caído, se não fosse ele. Obrigado, Deus, porque nunca fui de usar bastão para descer o rio, e no dia que senti de usar o Senhor me livrou de um tombo.

27.01.09. Fui pra Cuiabá anteontem e, após uma segunda e terça-feira não muito produtivas, exceto por uma cutucada na parte ré do “Sr. Durval”, voltei para a Chapada já de noite e jantei um cachorro quente e Coca-Cola, dentro do carro mesmo. Na Mirela, encontrei o Ramon, empolgado com sua editora na capa do G1 e da Folha, por causa de um livro sobre o Che Guevara. O Luciano, marido da Mirela, me emprestou o filme Apocalipse Now (esplêndido, chocante, humano).

28.01.09. Acordo às 08h30m e vejo que o João deixou café pronto na mesa. Escrevi sobre os concursos, a prova da OAB, meu Vade Mecum, a N.E.X.T., a Comissão de Estagiários, o livro Contos de Advogados Matogrossenses, a viagem aos EUA e sobre Cristianismo. Me atraquei numa jaca que a Érica, esposa do João, mandou para mim, e comi tanto que deixei o almoço para o jantar. Assisti Apocalipse Now de novo, fazendo carinho nas gatas da chácara (Lily, Rosinha e Santinha) até cansar. Acho que estou ficando louco com essa vontade de ficar por aqui… Como disse a Mirela, “Chapada vicia”. Estudei um pouco do livro de Atos dos Apóstolos e nem fui à cidade hoje. Dormi cedo, pelado, o bucho cheio de jaca, feliz da vida.

29.01.09. Acordei 5h00m da manhã para pôr um aflito e ruidoso gato para fora, pela janela mesmo. Nem vi direito qual deles era. Escrevi sobre a criação da N.E.X.T. Business & Networking. Ainda tentei dar um susto na Lily (que acordou 1 segundo antes de eu bater uma tampa de panela no vidro da cozinha, onde ela dormia capotada de sono). Fui até o rio, dei um mergulho. Precisava ir à cidade, mas fiquei enrolando. O João trouxe a outra metade daquela jaca. Depois de um demorado cochilo após o almoço (ê, vidão!), escrevi sobre o Mau, a Tati e a amputação, esta sob o ponto de vista de meu pai (chorei em bicas). Também escrevi alguns parágrafos sobre o começo do fim, naquela Dourados de 1994, até que cansei os dedos e fui dormir.

30.01.09. Fiquei com insônia e assisti a outro filme “locado” do Luciano: O Sétimo Selo, de 1956. É um clássico, sobre um cavaleiro medieval dividido entre o ateísmo e a fé, que encontra a Morte e a desafia para uma partida de xadrez, ganhando assim um pouco mais de tempo para buscar respostas à sua questão existencial (qualquer semelhança é mera coincidência…). Acordei meio cedo e fui sentar lá na beira do rio, pensando na vida. Das 08h30m da manhã ao meio-dia, só fiz escrever… Os capítulos inéditos estão quase se costurando. Dizem que luxo mesmo é ter tempo. Acabei de almoçar e preciso decidir se tiro um cochilo embaixo de uma árvore ou caio na água cristalina do rio aqui no meu quintal. Faço carinho nos gatos, pego uma bolacha em seguida… higiene anda a zero por aqui: ainda estou usando apenas dois garfos (um só pra jaca).

11.02.09. Em Cuiabá não rendo, por causa do barulho, agitação, da facilidade de me acessarem por celular, e-mail etc. Como aqui não tem nada disso, só escrevo. Hoje falei sobre assalto com o Renault, época do Anglo, IBNG, festas à fantasia do Shipú e minhas reprovações em metodologia científica (UNIC).

12.02.09. Acordei antes do celular, às 05h04m. Escrevi mais sobre minha adolescência. Choveu no almoço, dormi até às 17:00 horas. Sinto vontade de escrever mais coisas, e ao mesmo tempo penso que o livro não pode ficar muito grande. Aliás, para quê este diário? Sinto como se estivesse retesando, para ser arremessado loooooonge.

31.05.09. Faz tempo que não escrevo, e aconteceram coisas interessantes no período. Fiz minha inscrição no maior seminário de empreendedorismo do mundo, o EMPRETEC. É meio parecido com O Aprendiz, do SBT. Tem até avaliação psicológica antes de ter sua inscrição aprovada, porque nem todos podem fazer o EMPRETEC, mesmo querendo… mexe muito com o emocional da pessoa, seus autoconceitos e capacidade de superação. A minha entrevista estava meio morna, com a psicóloga vacilante entre me aprovar ou não. Aí senti um impulso de “chutar o pau da barraca” e contei do acidente e do que passei para sobreviver a ele, que me sinto capaz de fazer coisas à altura do desafio Empretec, que não a decepcionaria… e consegui minha vaga no último minuto de entrevista. Ufa! Encerrado o curso, já na semana seguinte combinei com o Porto Seco de me afastar por 2 meses e 15 dias para um curso de despachante aduaneiro em Curitiba/PR. Juntei minhas coisas e fui embora para uma cidade estranha, sem parentes, sem amigos e sem muita certeza de que conseguirias me manter ali. Por enquanto, nada de editoras interessadas em meu Vade Mecum.

02.04.09. Na última vez que fui a Brasília prestar um concurso, terminei um recurso processual que vi esboçado no notebook do meu tio Ronaldo. Depois que ele viu a peça pronta e gostou do meu nível técnico, me chamou para abrirmos um escritório. Com certeza absoluta, estudar para concurso te deixa um advogado muito melhor, pelo contato com inúmeras outras leis (e macetes!), geralmente desconhecidos da maioria dos advogados. Mas não, tio, obrigado. Foi só pra brincar um pouco, e você deve ter gostado da parte que ousei chamar de “aprisco eleitoral” na defesa que você estava redigindo, e muito bem.

07.04.09. Aproveitei para dar uma geral no Corolla. Aliás, vontade de me reinventar inteiro, a começar pelo desejo de fazer o melhor curso de despachante aduaneiro do País, em Curitiba. Sinto como se tivesse chegado a minha hora, um momento em que você sente que sua vida vai mudar… isso “tem o dedo” da Cláudia, com certeza. … plantei, agora vêm os frutos. Por estes dias, tenho prestado expediente no Porto Seco, para aprender com o Eduardo um pouco mais de como a coisa funciona, antes de chegar o dia de mudar-me para 1.300 quilômetros daqui.

01.05.09. Fui para São Paulo, consultar um médico especialista em dor. R$ 600,00 de consulta mais R$ 896,00 de remédios. E olha que os remédios davam R$ 1.600,00 reais, mas eu não achei sensato comprar o estoque todo sem experimentar primeiro. A atendente da farmácia foi colocando no balcão, perguntou se eu queria mais alguma coisa e qual seria a forma de pagamento. “Débito”, falei. Quando ela me disse o valor, quase caí de costas. Em São Paulo, fiquei num hotel na Av. 9 de Julho, onde conheci o Carneiro (ex-Diretor de Presídio, que revolucionou o sistema ao colocar os reeducandos para fazer macas, cadeiras de rodas, bengalas e andadores, reciclando bicicletas velhas), bem como seu filho Filipe. Também conheci duas russas: a Dasha (UAU!) e a Olya (hum… talvez). Fui falar de importação de aeronaves no Campo de Marte, fiz muitos contatos interessantes. Estava com 40 cartões, saí com 4. Voltei para Cuiabá e já entrei num curso de alto nível na área de Licitações, ministrado pela PH&T. Durante a semana, Porto Seco o dia todo e o curso à noite.

23.09.12. Pelo Facebook, dei um “tchauzão geral”, avisando que ia subir pra terminar o Quando a Vida Faz uma Curva. Peguei da página 124 e fui até o final (página 200), reescrevendo, acrescentando, eliminando… À noite fui no Ramon conversar sobre o livro, e na Mirela para tomar um suco e conversarmos um pouco. Vim embora 22h00m.

24.10.12. Fiquei pensando e tendo ideias, de forma que perdi o sono. Acordei com o caseiro vindo me trazer os bifes que eu tinha encomendado. Passei o dia escrevendo este último ano e agora à noite empolguei tanto acertando os anexos do livro que estou com dó de parar para ir preparar minha própria janta.

 

 

 

 

 


2 comments

  1. Me lembro bem da Mirela, do Rogério e de todos os encantos típicos de um conto de fadas…
    Na época era apaixonada pelo Neném, que sempre me surpreendeu pelo seu faro infalível!
    Lembro que passava meu tempo brincando com a Yasmin, a gatinha mais linda de todos os tempos que, de tempos em tempos, me trazia uma cobrinha morta ou até algum ratinho desafortunado.
    Outros dias, me divertia com a pequena Brigitte, sempre carinhosa aos meus poucos seis anos de idade.
    Por fim, Toulouse, gatinho esperto que embora não me desse muita confiança, sempre se rendia as minhas carícias. Quem sabe… afinal se passaram 13 longos anos. Adoraria ter notícias deles.


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