Bem, vamos lá. Preciso fazer um histórico do que tinha aprendido sobre religião antes de minha vida fazer uma curva. Fui ensinado que, para alguém ser “salvo” (ou seja, ter o perdão de tudo o que se fez de errado e ganhar a vida eterna prometida por Deus), bastava o interessado levantar a mão ao final da pregação em uma igreja evangélica qualquer (momento do culto conhecido como “apelo”) e “aceitar a Jesus”, ou seja, demonstrar-se arrependido e “entregar a sua vida para o Senhor”. Aí o Pastor orava e pronto: aquela pessoa já tinha ganho o céu. Depois o “novo convertido” ia fazer um “curso de batismo” naquela igreja, mediante agendamento (tinha que ter um quorum mínimo, que valesse a pena mobilizar a igreja para o evento) e por fim se batizava como uma confirmação de sua salvação (1). Isso é assim até hoje.
(1) Tendo a Bíblia como única regra de fé e prática cristã e considerando que a teoria da salvação acima fosse verdadeira, então bastava um texto bíblico para confirmar isso, certo? Porque, do contrário, essa teoria só pode ter saído de alguma outra fonte, colocada acima da autoridade da Bíblia. Concorda? Qual fonte você seguiria?
Quando, na pré-adolescência dentro da igreja, eu via que meu comportamento era menos imoral do que os já batizados, entrava em parafuso porque sempre achei a decisão pelo batismo um ato extremamente sério. Esse foi meu entrave por anos: como batizar, se me conhecendo como conheço sei que vou pecar de novo? Logo, sabendo que deveria haver uma resposta bíblica para isto, não me batizaria enquanto não entendesse exatamente o que estava fazendo.
Mas foi depois que minha vida fez uma curva que fui entender (na Bíblia) que só um comportamento moral não basta para ir para o céu, porque ainda que eu decidisse por uma vida moral, baseada em princípios e valores, a minha condição espiritual já era de separação de Deus pelo pecado (2), porque em algum momento da minha vida eu, sabendo a diferença entre o bel e o mal, o certo e o errado, comecei a fazer coisas que O desagradaram. Ou seja, foi algo que eu não pude evitar, mesmo que quisesse, e o fato é que isso aconteceu com todos nós, sem exceção.
(2) Romanos 3:23-25. “Porque todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus; sendo justificados gratuitamente pela sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs como propiciação, pela fé, no seu sangue, para demonstração da sua justiça…”.
O problema surge quando tomamos consciência dessa culpa e passamos a querer achar um meio de nos redimirmos dela diante de Deus. Como isso é IMPOSSÍVEL (sempre achamos que “ainda não estou pedindo desculpas o suficiente”), o homem vai da oração mais curta, pedindo perdão, até a autoflagelação, em algumas religiões.
Ocorre que tentar obter o perdão dos pecados (que é a salvação, como veremos adiante), por si só, vai contra a base do Cristianismo, como está escrito em Efésios 2:8-9: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé, e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie”. “Graça”, em um conceito universal dentro de qualquer religião de base cristã, significa “favor imerecido”, ou seja, salvação do homem, através do perdão de seus pecados, para que obtenha a vida eterna. Não pode vir de obras que eu faço, porque como seria classificar isto? Quanto alguém teria de fazer para ser salvo? Qual seria o limite, para que não precisasse de mais obras? Será que as pessoas se comparam, julgando entre si quem vai por céu por causa do quê? Onde está escrito na Bíblia que você é salvo por ser “bonzinho”?
E então entendi a passagem de Marcos 16:15-16, onde Jesus (depois de morto e ressuscitado) aparece pela última vez diante de seus discípulos e diz: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda criatura; quem crer e for batizado será salvo, quem não crer será condenado”. Dessa leitura concluí que a fórmula “crer + batizado = salvo” (C+B=S) era diferente da que ouvi em toda a minha vida, pregada até hoje: “crer = salvo, depois faz um curso de batismo e então se batiza, para confirmar a salvação (C=S+B)”.
Para mim, estes dois versículos (Mc 16:15-16) resumem toda a mensagem bíblica, e é a partir deles que faremos uma dissecação textual, e vejamos se você não chega à mesma conclusão que cheguei. Confira as passagens na sua Bíblia e pense em como VOCÊ entende, para de agora em diante não estar mais em evidência a “minha” interpretação.
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Certamente que esse “crer” tem por princípio a fé na existência de Deus, sem a qual é impossível agradar-Lhe (3), ou aceitar apenas a Bíblia como a Sua Palavra. Mas essa fé tem uma característica essencial, que é ser obediente (4). Se a obediência nos parece um preço muito alto a pagar, lembremos que o maior exemplo de obediência veio do próprio Cristo que, sendo o Filho de Deus, não precisava ter se submetido a tamanho sofrimento (5).
(3) Hebreus 11:6. “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”.
(4) Romanos 1:5. Por intermédio de quem viemos a receber graça e apostolado por amor do seu nome, para a obediência por fé. Romanos 16:26. Mas que se manifestou agora, e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações, para a obediência da fé. 1 Pedro 1:22. Tendo purificado a vossa alma, pela vossa obediência à verdade.
(5) Romanos 5:19. Porque, como pela desobediência de um só homem (=Adão), muitos foram feitos pecadores, assim pela obediência de um (=Jesus), muitos serão feitos justos. Filipenses 2:5-8. Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz.
É lógico que crer em Deus ou em Jesus não é problema para muita gente (dois terços da população mundial se declara cristã), mas lendo Mc 16:15-16 de novo, vi outra coisa: esse “crer” se relaciona com o Evangelho, e não com “crer em Cristo”! Observe: “Ide (…), pregai o Evangelho; quem crer (no Evangelho, concorda?) e for batizado será salvo”. O batismo, portanto, só fará sentido se alguém entender o que é esse tal de “Evangelho” (6), o que tratarei em seguida. Antes, porém, há questões que decorrem naturalmente (argumento lógico) do texto acima: a) se uma pessoa se batiza ignorando o que seja Evangelho, ela creu em quê? b) se me batizo nessas circunstâncias (sem saber se estou crendo na coisa certa)… serei salvo? c) se crer é obedecer, e eu creio no Evangelho mas não obedeço ao mandamento de Jesus para o batismo, eu realmente cri?
(6) O Novo Testamento foi todo escrito em grego porque era a língua universal da época, a exemplo do inglês no mundo globalizado de hoje. Assim, a tradução literal de Evangelho é “boas novas”, ou seja, “boas notícias”. Vamos ver que “boas notícias” são estas.