Hoje vi que meu sapato tinha um furo. Bem embaixo do dedão direito. Sapato furado é sinal de pobreza, né? Talvez o seu sapato, porque o meu tem um furo mas está bem engraxado.
Por metáfora, percebo a vida como o tempo passado sobre estes sapatos, desde quando ainda estavam nas primeiras ruguinhas, causadas pelo pouco uso.
Comparo estas ruguinhas a quem não sabe onde ir, tal como eu era antes de minha metáfora me convencer a escolher uma vida de negócios. Escondia um eu verdadeiro sobre sapatos que não sabiam para onde ir, que preferiam parar inertes diante de vitrines opacas de um sucesso artificial, disfarçado com muita luz, decoração, música e photoshop.
Penso então nas pessoas que trocam seus sapatos quando aparecem as primeiras ruguinhas, justificando ser “importante”. Talvez seja da maior importância para o vendedor (da loja), cuja sobrevivência depende muito mais da vaidade alheia do que de um ou outro sapato furado que aparece de vez em quando.
Mas isso não significa que andarei com meus sapatos gastos por aí. Se meu sapato tem um furo e precisor comprar um novo par, é porque não quero apenas sobreviver, mas superviver. É para isso que hoje e gasto sola trabalhando no que me dá prazer, ao contrário de antes, quando ficava na frente do guarda-roupa admirando como meus sapatos estão novinhos e brilhando… há mais de ano (e a vida ia seguindo sem deixar pegadas minhas, apesar do pesado fardo de desculpas, “mentiras verdadeiras” e conformismo por não encontrar a oportunidade “certa” para agir).
Por quê somente hoje percebi que precisava de sapatos novos? Talvez não seja o sapato que gastou rápido, e sim a meta que chegou mais cedo. E ao dormir descalço o meu sapato furado, mas feliz da vida porque apesar dos atritos que lhe trouxeram as rugas, o brilho ainda vem por fricção.
Curitiba/PR, 26.11.09, às 23:17.