O surgimento das igrejas

Igreja, igreja mesmo surgiu no dia de Pentecostes, descrito em Atos 2. Ali surgiu a igreja prometida por Cristo, composta de pessoas (igreja não é o prédio, mas vem do latim ecclesia, que significa assembleia de pessoas) que se converteram ao Cristianismo, por terem crido no Evangelho, pregado na ocasião por Pedro (At. 2:14-36), resultando no batismo de quase 3.000 pessoas (At. 2:41), no século I.

Dando um salto no tempo, o Catolicismo surgiu no ano 606 d.C.. Consta na História que um bispo chamado Gregório I, de Roma, estava brigando com o bispo Eulógio, de Alexandria, pelo posto de líder máximo do Cristianismo, aí veio o outro bispo, chamado Bonifácio I, e tomou o posto dos dois, tornando-se o primeiro Papa. Como não existe igreja católica sem Papa, convencionou-se dizer que essa é a data de seu surgimento. A história é longa e meu foco é outro.

Séculos depois, na Europa, por volta do ano 1500, houve um momento na História, com viés religioso, chamado de Reforma Protestante (João Calvino e Martinho Lutero, entre outros), que deu origem a todas as denominações protestantes. Houve uma mudança radical na fórmula para ser salvo (Mc 16:16 = crer + batizado = salvo), tirando o batismo da posição de requisito e colocando-o na posição de confirmação da salvação (ora, confirmar significa que já estava salvo só pelo “crer”). Essa fórmula provém de uma interpretação isolada da Bíblia, perpetrada por João Calvino (1), pela qual ele entendia que a salvação vem única e exclusivamente pela graça (o favor imerecido, ou amor incondicional de Deus, independente de qualquer atitude de obediência ao batismo), dando origem, juntamente com Martinho Lutero, ao chamado “Protestantismo” (2) (3). Depois de entendermos este importante movimento religioso da época, e olharmos para a Bíblia novamente, ficará fácil afastar tudo o que não guarda relação entre o Evangelho e o batismo bíblico, pois o que for diferente terá sido apenas um mergulho na água fria, seguindo uma interpretação isolada que apareceu dezenas de séculos depois.

(1) Se a salvação viesse somente pela fé (sem obediência, sem batismo), então Jesus mentiu em Marcos 16:15-16? Por fim, se a Bíblia tivesse deixado espaço para novas interpretações, não se leria expressamente em Judas 3 (o penúltimo livro da Bíblia) que a fé foi entregue de uma vez por todas, ou em II Tim. 3:16-17 que toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para tornar o homem perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra (precisa mais alguma coisa?). Outrossim, Jesus passou três anos ensinando uma parte da verdade, e ainda prometeu em João 16:13, antes da crucificação: “Quando vier, porém, o Espírito da verdade, Ele vos guiará a toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas que hão de vir”, o que aconteceria nas cerca de 6 décadas seguintes. Por fim, em Judas 3, antes apenas do Apocalipse, se lê que a fé “foi entregue de uma vez por todas”. Logo, pelo contexto, entendo que “toda a verdade”, ou fé que salva, só pode estar entre as palavras de Jesus e os livros até Judas.

(2) Martinho Lutero era um padre alemão estudioso de línguas antigas, e ele traduziu a Bíblia do grego para o latim para o alemão (http://pt.wikipedia.org/wiki/B%C3%ADblia_de_Lutero). O resultado desta ênfase era um interesse num retorno às Escrituras e a restauração do cristianismo primitivo. Os humanistas bíblicos apontaram os maus na igreja da sua época e pediram uma reforma interna. Talvez quem teve mais influência foi Disidério Erasmo (aproximadamente 1466-1536). Conhecido como o “príncipe dos humanistas”, Erasmo usou sua ampla escolaridade para desenvolver um texto do Novo Testamento em grego, baseado em quatro manuscritos gregos que estavam disponíveis para ele (supõe-se que estes manuscritos gregos vieram da Terra Santa durante as Cruzadas). Com a ajuda da prensa de impressão, Erasmo publicou o texto grego do Novo Testamento em 1516. A capacidade de estudar a Bíblia na sua língua original encorajou uma comparação mais precisa da igreja dos seus dias com a igreja do Novo Testamento. Martinho Lutero, por exemplo, usou imediatamente o texto grego de Erasmo. Ele logo percebeu que a interpretação da Vulgata Latina em Mateus 4:17 de “pagar penitência”, por exemplo, seria mais precisamente “arrepender-se”. Tal conhecimento contribuiu para uma percepção crescente de que o sistema sacramental não era apoiado pelas Escrituras (http://www.estudosdabiblia.net/2004119.htm). Conforme ia traduzindo, percebeu dezenas de contradições entre o que estava escrito e o que praticava por imposição do Catolicismo. Num belo dia, ele reuniu todas essas contradições em um documento chamado As 95 Teses, mostrando que a venda de indulgências, purgatório, problemas sobre penitencia e a autoridade da Papa estavam errados (http://pt.wikipedia.org/wiki/95_teses) (http://pt.wikipedia.org/wiki/Reforma_Protestante). Assim, pregou na porta da igreja católica da qual era padre (Wittemburg), abandonou a batina, chamou aqueles que quisessem vir debater seus novos conhecimentos e então organizou uma igreja com base nestes. Muito embora tentasse evitar qualquer vanglória por isso, seus seguidores perseguidores passaram a chamá-la de igreja luterana.

(3) Esse “protesto” diz respeito à forma com que as missas católicas eram rezadas na época: em latim e com o padre de costas para o povo, que nem entendia o que ele dizia, nem tinha acesso à Bíblia (geralmente acorrentada ao pé do altar), enquanto que “reforma” diz respeito à revolta do povo com a corrupção moral dos padres e o declínio do poder papal, marcado por vários abusos de privilégios e responsabilidades.

Com a tradução da Bíblia do grego para o alemão, logo houve sua tradução do grego também para o inglês (1611), e pouco tempo depois a Bíblia estava traduzida para muitas outras línguas, a partir do grego, tornando-se agora acessível a quem quisesse ler (embora ainda hoje há tribos indígenas que não têm a Bíblia na sua língua). Se por um lado a democratização da leitura foi algo benéfico, isso também proporcionou conflitos de interpretação, e o movimento protestante acabou dando origem a dezenas (4), depois centenas e hoje milhares de denominações no mundo todo – todas se dizendo fundamentadas no Cristianismo – e que somadas ao Catolicismo formam um contingente de nada menos que 4 bilhões de pessoas (5). A maioria das denominações de hoje surgiu por pessoas acreditaram que Deus havia revelado algo para seu fundador além das Escrituras.

(4) Algumas das primeiras denominações protestantes dessa época: Igrejas Luterana (1530), Presbiteriana (1536), Batista (1550), Metodista (1738), Mórmon (1830), Adventista do 7º. Dia (1844), Testemunha de Jeová (1884), Movimento Pentecostal (1885), que multiplicou as denominações evangélicas.

(5) Para se ter noção do tamanho dessa massa de denominações que se afirmam dentro da unidade cristã, o Islamismo detém o segundo lugar, com apenas (e aproximadamente) 700 milhões de seguidores.


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